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A inédita etapa do Festival Choro Jazz na região sul do Ceará foi encerrada na noite deste domingo, (22), no Centro Cultural do Cariri, no Crato. Com público mais numeroso, Egberto Gismonti e a Orquestra à Base de Sopro, de Curitiba, com 14 músicos, encerraram a programação do festival, iniciada na última terça-feira, (17), com as oficinas ministradas por Mauricio Carrilho, Paulo Sérgio Santos, Pedro Amorim, Cacá Malaquias e Ney Conceição. E continuada com os shows de sexta, sábado e domingo.
Realizado há 15 anos em Fortaleza e Jericoacoara, o festival chegou ao Cariri com três dias de apresentações musicais, programação encerrada neste domingo, com alguns dos momentos mais marcantes da semana. Apresentado pela Petrobras e pelo Ministério da Cultura, neste ano o Festival Choro Jazz acontece de forma itinerante pela primeira vez. As duas primeiras etapas do festival aconteceram em julho, no Pará, em Soure e Belém. Com apoio também do Governo do Ceará e do Instituto Mirante de Cultura e Arte, o Choro Jazz chegou nesta semana ao chão sagrado do Cariri,
Neste domingo (22), no Crato, o maracatu Uinú-Erê se apresentou em cortejo pelo Centro Cultural do Cariri, tendo como rainha João do Crato, um dos apresentadores do festival, ao lado da atriz Luisa Martins.O maracatu recebeu uma homenagem do Choro Jazz, assim como aconteceu na sexta-feira com a Banda Cabaçal dos Irmãos Aniceto e com os integrantes do Povo Kariri do Sítio do Poço. E no sábado com o Reisado de Mestre Aldenir.
Neste domingo, após a homenagem ao maracatu, a poeta Josenir Lacerda foi convidada a declamar o cordel que escreveu especialmente para marcar a chegada do Festival Choro Jazz ao Cariri. E se emocionou ao estar lado a lado com sua filha, Lusy Lacerda, entusiasta da música e grande fã de Egberto Gismonti, e da filha, a violonista, cantora e compositora Tâmara Lacerda, que viveu intensamente o festival, participando das oficinas, de entrevistas e se apresentando neste domingo ao lado do acordeonista, cantor e compositor Ranier Oliveira, como o primeiro show do derradeiro dia de evento.
Além de declamar seu poema, Josenir Lacerda, mestra da cultura do Ceará e integrante da Academia Brasileira de Cordel, ainda compôs outros versos para agradecer pela homenagem e celebrar o festival, tendo recebido de Antônio Ivan Capucho, idealizador e diretor do evento, uma obra do artista caririense Boni, também historiador e sanfoneiro. "Eu fico ainda mais feliz com essa homenagem. Me emociono muito com todos os artistas do Cariri. Mas com alguns a gente tem mais identidade. E o Boni é um artista de que a gente gosta demais", ressaltou a poeta, de 71 anos, também artesã.
Após o encontro de três grandes mulheres artistas, avó, mãe e filha, e cercados de amigos, colegas e fãs no gramado do Centro Cultural do Cariri, Tâmara e Ranier se emocionaram em diversos momentos do show, falando da imersão no festival ao longo de toda a semana e da alegria de estarem entre as atrações do festival, ao lado de músicos que estão entre seus grandes mestres.
E além de brilharem em recriações instrumentais de temas como "Ninho de vespa", de Dori Caymmi, também mostraram composições próprias. E encerraram o show com o clássico "Rio Amazonas", de Dori e Paulo César Pinheiro, jogando em casa, sob muitos aplausos.
Hora e vez então do grupo O Trio, formado pelos mestres Mauricio Carrilho, Paulo Sérgio Santos e Pedro Amorim, em uma retomada, por sugestão de Capucho, de um projeto dos anos 90. Os integrantes do grupo também brilharam ao longo da semana nas oficinas e em uma roda de choro arregimentada por Cacá Malaquias, na noite de quinta-feira, no Crato. O show foi um dos mais belos do festival, com os mestres unindo violão, clarinete e bandolim a clássicos do choro, inclusive "Tira poeira", destacado como obra de Sátiro Bilhar, compositor que nasceu no Crato.
Após os mestres de cerimônia João do Crato e Luisa Martins fazerem um agradecimento especial a todos que trabalharam para fazer a primeira edição do Choro Jazz no Cariri, Egberto Gismonti abriu sua apresentação com o clássico "Carinhoso" em piano solo, como que em um convite para que todos se achegassem mais, para o que viria. "Retrato em branco e preto" e "Miuduinho" vieram com o mestre homenageando Tom Jobim e Villa-Lobos.
Com o regente da Orquestra à Base de Sopro, de Curitiba, convidando um a um os integrantes do grupo, os arranjos exuberantes, a precisão e as múltiplas possibilidades da orquestra, "tocando a música de Egberto juntamente com Egberto", como se destacou, capturaram a atenção e a emoção do público em temas clássicos como "Palhaço" e "Sete anéis". Em "Água e vinho", "Karatê" e no "Frevo", final arrebatador, com o público de pé, bem mais perto do palco, compartilhando da energia de Egberto e orquestra e retribuindo com muitos aplausos, sob a lua no Cariri.
Convite feito para as próximas etapas do festival, em Fortaleza de 29 de novembro a 1º de dezembro. E em Jericoacoara, de 3 a 8 de dezembro. Então, até a próxima etapa! Vivam a música e os músicos do Brasil.