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| Foto: André Lima/CMFOR |
O Coletivo Rebento Médicos em Defesa da Vida, da Ciência e do SUS foi homenageado, por seus cinco anos, na Câmara Municipal de Fortaleza, por iniciativa do vereador Gabriel Aguiar (PSol). O Coletivo atuou firmemente contra o negacionismo e em defesa da ciência, durante a pandemia, e segue cobrando a responsabilização de quem contribuiu para centenas de milhares de mortes evitáveis por Covid-19.
Fundado em maio de 2020, o Coletivo Rebento surgiu em Fortaleza como uma resposta ativa de profissionais da saúde diante dos desafios impostos pela pandemia de Covid-19. Desde sua criação, o grupo tem se destacado por promover informações cientificamente embasadas, combater a desinformação e defender o Sistema Único de Saúde, o SUS, como pilar para a garantia fundamental de acesso à saúde.
O Coletivo realiza um trabalho de contribuição à informação cientificamente comprovada, ao debate público sobre a pandemia de Covid-19 e seus efeitos, à defesa de ampla vacinação, de proteção da vida, de isolamento social com auxílio emergencial e proteção social, entre outras ações de apoio à população. Um contraponto ao negacionismo, à divulgação de “fake news” e medicamentos ineficazes, à falta de seriedade contra a pandemia, denunciando as consequências das escolhas erradas de políticas públicas para o agravamento da pandemia e a grande quantidade de mortes evitáveis no Brasil.
O Coletivo Rebento também se engaja em atividades culturais, utilizando a música como instrumento de conscientização e mobilização social. O Coletivo Rebento expressa através da sua banda e do seu coral a ligação entre saúde pública, cultura e arte, que integram de forma permanente as manifestações do grupo. O Rebento também lançou um livro com relatos sobre o combate à pandemia de Covid-19 no Ceará e realizou inúmeras manifestações, nas ruas e nas redes, de denúncia sobre a falta de seriedade no combate à doença, no Brasil.
Escolhas equivocadas que custaram a vida de centenas de milhares de brasileiros e brasileiras. Mortes que poderiam ter sido evitadas, se não tivesse havido no plano federal um constante boicote às medidas de controle da pandemia, incluindo minimização dos riscos, insultos aos doentes e familiares, combate ao uso de máscara, ao distanciamento social e demora injustificável na compra das vacinas.
São bandeiras do Coletivo Rebento proteger a vida, valorizar a ciência, a saúde pública, defender o SUS e seu financiamento adequado, inclusive para estados e municípios, permitindo atenção integral, universal e equânime à população; promover a vacinação ampla e rápida, como forma efetiva de vencer a pandemia; defender a democracia e lutar contra arbitrariedades e ameaças autoritária; exigir condições de trabalho e de segurança para os médicos, para todos os profissionais de saúde e todos os trabalhadores no combate à pandemia; cobrar o fim do congelamento dos recursos federais para a saúde (revogação da Emenda Constitucional 95); trabalhar para que o cuidado médico seja sempre baseado nas melhores evidências científicas, inclusive quanto à Covid-19, contra prescrições e condutas ineficazes; fortalecer a Atenção Primária à Saúde (APS) como componente central da organização de todo o Sistema Único de Saúde (SUS); valorizar o controle social do SUS, com destaque ao Conselho Estadual de Saúde (CESAU), fortalecendo e participando desses espaços; colaborar ativamente com outras categorias e entidades na defesa do SUS; cobrar e promover ações de cuidado e atenção à saúde física e mental do médico e dos estudantes de Medicina.
Confira o pronunciamento do vereador Gabriel Aguiar
" Muito boa noite a todos e todas do Coletivo Rebento. Queria começar agradecendo imensamente não só a presença de vocês aqui hoje, mas todo o trabalho que vocês têm realizado ao longo desses cinco anos. Agradecer à presença de cada uma das médicas e dos médicos que têm se dedicado a defender a vida, a ciência e o SUS.
Tivemos a ideia de protocolar esse requerimento aqui na Casa justamente por termos a compreensão de que essa luta que vocês travam precisa ser fortalecida, visibilizada, precisa ser inspiração e exemplo para mais médicos e outras categorias profissionais que saibam da importância de a gente defender, seja a medicina, seja a política, baseada em evidências.
O Coletivo Rebento surge em um dos momentos mais difíceis da história do Brasil e do mundo, quando um vírus, o SARS-CoV-2, rapidamente se espalha, se multiplica, criando variações, e pega a população de surpresa. A gente passa a ter uma corrida dupla — de imunidade, de autoproteção, de preservação das pessoas e famílias — e uma corrente de tentar contrapor e barrar o negacionismo e as contrainformações que começaram a ter muita capilaridade entre nós.
Fomos atacados por essa pandemia em um momento muito difícil, em que, infelizmente, nosso país estava fértil para esse tipo de anticiência se espalhar. Nós perdemos mais de 700 mil vidas, e a gente sabe que esse número poderia ter sido bem menor se a vacina tivesse chegado antes, se mais pessoas tivessem adotado a máscara no seu dia a dia, se mais pessoas tivessem acreditado e respeitado o isolamento social — claro, aquelas que podiam fazer isso. Mas esse número passou de 700 mil pessoas.
Logo no início do primeiro lockdown, os membros do Coletivo Rebento se sentiram convocados a tomar uma atitude, porque sabiam que a linha de frente dos hospitais, dos postos de saúde, das UPAs, era essencial. Mas havia uma outra linha de frente: o combate à desinformação. E o Rebento surge em maio, dois meses depois do decreto do lockdown em Fortaleza. Uma ação rápida e consistente, que só cresceu e que hoje tem médicos implicados nessa grande luta.
O Rebento atuou no período mais difícil da pandemia, informando, promovendo sensibilização, com sua rede social se movimentando, enfrentando a desinformação e, claro, fazendo o que vocês sempre fizeram muito bem: salvando vidas. Defendendo um Brasil que se orgulha e bate no peito por ter seu exemplo de imunização, de vacinação, de levar a saúde pública para os locais mais remotos desse país — onde o cálculo matemático do lucro não faz sentido para a medicina chegar. E o SUS chega, na ponta. E o Brasil tem muito orgulho dessa história. O nosso país não é o país da antivacina, do negacionismo.
Tudo isso — essas forças contrárias — não são nossas, são importadas. E o Rebento faz um trabalho gigantesco, de expor, de detalhar, de divulgar para a população tudo isso. E vocês seguem essa luta. Acho interessante destacar aqui também que a gente percebe a relevância dessa homenagem quando vemos que ela não foi aprovada por unanimidade aqui. Quase foi, mas não foi. E aquela não unanimidade nos revela a importância das lutas de vocês. Essas forças contrárias se manifestaram nas televisões, no WhatsApp, nos espaços de poder. E o Rebento estava lá, enfrentando em todas essas frentes. E eu deixo aqui, como cidadão de Fortaleza, a minha sincera gratidão.
A pandemia nos revelou a face mais nefasta da nossa sociedade, no nosso Ceará, na nossa Fortaleza, no nosso Brasil. A gente tem incontáveis exemplos, mas posso citar um: o do pequeno Miguel, que perdeu sua vida no início da pandemia. Sua mãe tinha que trabalhar na casa abastada de uma senhora da alta sociedade pernambucana. E, enquanto a patroa fazia as unhas, não pôde observar o pequeno Miguel, que acabou despencando da janela do prédio e perdendo a vida. Esse fato chamou atenção no início da pandemia.
A pandemia nos mostrou que o mesmo vírus consegue ter índices de letalidade completamente diferentes de bairro para bairro, de cidade para cidade. A redução do número de mortes e a sobrevida da população variavam muito de bairro para bairro. E a pandemia revelou a necessidade de não baixar a guarda, de defender o SUS, de defender a vida.
Portanto, esta sessão solene é um reconhecimento a cada um, a cada uma de vocês que compõem o Rebento, uma humilde homenagem a esse coletivo tão importante. Não temos aqui uma banda, como tivemos dias atrás, mas estamos fazendo o que podemos. E a gente queria parabenizar, representando o Legislativo e o povo da cidade — inclusive aqueles que talvez nem saibam o quanto foram beneficiados pela ação do coletivo.
Temos homenageados representando o Coletivo. Destacar a presença da Ângela aqui, e fico emocionado ao vê-la, porque foi ela que fez o parto da minha mãe, me trouxe ao mundo. Encontrá-la aqui, depois de 30 anos, é uma alegria, uma emoção muito grande. Sentimento compartilhado por centenas de pessoas que ela trouxe ao mundo.
Queria agradecer e parabenizar aos fundadores do Coletivo Rebento, homenageados nesta sessão solene:
Dra. Liduína Rocha, Dra. Elodie Bonfim Hyppolito, dr. Roberto da Justa Pires Neto. Pelo Grupo de Trabalho Assistencial: dra. Camila Araújo Montezuma Queria destacar ainda o vocalista e ídolo da Banda Rebento, Dr. Ricardo Coelho Reis. Tive a satisfação de prestigiá-lo. Pelas novas lideranças do Coletivo Rebento, o dr. Fabrício Martins.
Meu muito obrigado a cada um de vocês. Parabéns por essa defesa hercúlea, cotidiana. Muito obrigado, como cidadão de Fortaleza. Viva a vida, a ciência e o SUS. Viva o Coletivo Rebento!"
Confira a íntegra do pronunciamento da Dra. Riane Azevedo, secretária Municipal de Saúde de Fortaleza
" Boa noite a todos e todas. É um prazer enorme estar aqui. A gente que acompanhou toda essa luta... Eu tava aqui comentando... Eu era, na época, superintendente do IJF e a gente presenciou esses momentos. Coisas que nunca mais, na minha vida, eu vou ver — nem quero ver.
Quero agradecer por essa homenagem merecida pro Coletivo Rebento. E eu tava falando aqui, que 2020 foi um momento em que todo mundo se sentia bastante pressionado. Eu, particularmente, me sentia muito infeliz, porque a gente via tudo que tava acontecendo e a gente não conseguia se expressar, não conseguia ter pessoas próximas da gente, que pensassem como a gente, que a gente pudesse ter, pelo menos, um acalanto... uma pessoa que ajudasse a superar aquele desânimo... todos aqueles movimentos que negavam a existência da pandemia — o que era mais grave.
E a gente que tava ali vivendo o dia a dia, a gente sabe tudo que a gente passou. Inclusive as noites, os nossos profissionais, as pessoas que conviviam com a gente... Muitas vezes eu ia pra dentro do plantão, com as pessoas que estavam vivenciando aquele clima. O IJF chegou a ter 100 leitos de UTI, fora os leitos que já tinha normalmente. Fora 50 leitos de enfermaria, pra receber esses pacientes. Chegamos a ter um trailer, um caminhão no pátio, com refrigeração, pra colocar os corpos das pessoas que faleciam, porque nas nossas geladeiras não cabiam.
Até hoje, quando falo disso, eu me emociono muito, porque percebia, nos profissionais que estavam ali, o apoio que eles precisavam. Excelentes profissionais — enfermeiras, médicos — e que no dia seguinte não sabiam nem como se comportar. Se desorientavam... era o estresse de ter seis, oito, dez pessoas morrendo num plantão. Era um absurdo! E a gente tinha que estar junto, tinha que estar com aquelas pessoas, porque o outro dia já era outro dia. Já ia começar a guerra novamente. Não dava pra ter tempo da gente sofrer, da gente chorar... a gente precisava acolher quem tava ali e, no dia seguinte, estar firme de novo, porque tudo recomeçava.
E pela necessidade de pessoas que precisavam de leitos de UTI... da planilha de Excel... no fim do dia, quando a gente achava que aquela lista estava, pelo menos, amenizada, a lista tinha dobrado. A planilha machucava mais do que ajudava. Só vocês que passaram por isso sabem do que a gente tá falando. Inclusive a perseguição... Teve momentos que eu cheguei até a pedir dinheiro pra pagar minhas contas, porque foram todas bloqueadas. Eu passei por isso. Mas a gente venceu. Nós estamos aqui pra contar essa história.
O Coletivo Rebento foi extremamente importante. Eu me encontrava muito com o Leonardo, e era um espaço que você me dava pra desabafar um pouquinho. O Marcos Flavio também... a gente ia conversando e a gente ia se segurando uns nos outros. E, pra mim, sempre que eu via ali uma animação do Coletivo Rebento — que é a voz de muitos de nós, que não podíamos nos envolver, nem tínhamos tempo de falar — mas era tanta perseguição, que, de repente, vocês falavam pela gente.
Essa é a expressão que, se eu tivesse que resumir, pra mim, o que foi o Coletivo Rebento, eu diria que foi a minha voz quando, muitas vezes, eu não conseguia falar. E eu sou muito grata por vocês terem existido. Pelo que eu passei, eu me sentia muito bem representada por vocês.
Hoje, como Secretária de Saúde, parabenizo cada um de vocês por terem levado esse movimento, por terem sido essa resistência de que nós precisávamos — a voz dos que não podiam falar. Quero agradecer a todos vocês. Vocês não têm ideia da importância de vocês, do que vocês fizeram, por muitos médicos que não tinham como falar. Parabéns pra vocês, pela representatividade que vocês fizeram. Que Deus abençoe a todos. E que a gente possa seguir sempre. E que vença sempre a democracia, porque é o meio mais digno da gente exercer a nossa cidadania".
Confira o pronunciamento do Dr. Ricardo Coelho, integrante do Coletivo Rebento
Estou muito emocionado depois desse vídeo que o Leonardo passou. Exmo. Sr. Vereador Gabriel Aguiar, presidente desta sessão solene e propositor dessa homenagem, pessoa em nome da qual saúdo os demais integrantes da mesa, o Coletivo Rebento está profundamente honrado com essa homenagem.
Vou começar minha fala com um pequeno trecho do prefácio do livro do Coletivo Rebento, que convido todos vocês a ler.
A humanidade, em sua busca permanente por uma sociedade fraterna e libertária, é capaz de encontrar esperança em meio à desolação. Solidariedade em vez de egoísmo. Alegria onde há dor. Solidariedade, em vez de omissão e negação da realidade. Foi assim que nasceu o Coletivo Rebento. Enquanto vivíamos o maior desastre humanitário do século, um grupo de médicos e médicas se levantou em defesa da vida, da ciência, do SUS. Mais recentemente, em defesa da nossa tão abalada democracia.
Em maio de 2020, esse grupo se reuniu na defesa da medicina baseada em evidências científicas, a favor das vacinas e contra as mentiras que contribuíram para o número absurdo de mais de 700 mil óbitos no Brasil.
Passada a pandemia, seguimos na defesa do SUS, que se faz no dia a dia dos nossos empregos públicos, nas universidades em que atuamos e nas pesquisas que desenvolvemos.
Sabemos muito bem que, infelizmente, somos contra-hegemônicos dentro da categoria médica, o que, por vezes, fundamenta perseguições políticas que muitas vezes são comuns na nossa sociedade. Nosso contumaz posicionamento em favor das evidências científicas infelizmente tem trazido situações de assédio em ambientes de trabalho, ambientes corporativos. Chegamos até a sofrer acusações levianas de fraudes em atestados de óbitos.
Seguimos defendendo o SUS, os direitos sociais, onde a saúde está inserida. Sempre no compromisso do respeito à ciência e na defesa da democracia.
Confira o pronunciamento do dr. Fabrício Martins, integrante do Coletivo Rebento
A pandemia também agravou desigualdades históricas e expôs a fragilidade do sistema de proteção social. As pessoas em situação de vulnerabilidade enfrentaram insegurança alimentar, e isso nos inspirou a fundar o GT Assistencial Coletivo Rebento. Distribuímos cestas básicas, refeições, alimentos, nas ações realizadas até hoje.
Realizamos nosso trabalho no João Paulo II, Jangurussu, e estamos prestes a realizar o sonho de montar a cozinha comunitária nessa comunidade. A Banda Rebento veio de acreditarmos na arte e na cultura como voz da sociedade, em que arte e cultura sejam valorizadas".
Confira o pronunciamento da dra. Camila Montezuma, integrante do Coletivo Rebento
" O Coletivo Rebento é a prova viva de que, mesmo em tempos de dor e incerteza, é possível construir caminhos de esperança e solidariedade. Nossa luta não termina com o fim da emergência sanitária. Ela continua no fortalecimento dos vínculos comunitários, na defesa intransigente da dignidade humana e na construção de um futuro em que saúde pública e cultura caminhem lado a lado.
Damos voz a cerca de 25% da categoria médica do nosso estado. Politicamente, discordamos dos caminhos dos integrantes de algumas de nossas entidades representativas. Nossa categoria ainda não percebeu que é massa trabalhadora, como qualquer outra na área de saúde. Que precisa lutar por concurso público para os mais jovens, estes totalmente precarizados nas mãos das cooperativas médicas, recebendo com meses de atraso e sem ter a quem recorrer.
Vivemos tempos estranhos em que professores de universidades públicas médicas defendem quem quer destruí-las. Pesquisadores apoiam quem desmoraliza a ciência em todas as oportunidades. Médicos apoiam quem deseja destruir o SUS, privatizando-o para interesses privados. Sim, temos muito orgulho de sermos divergentes, de seguirmos defendendo a ética médica e as universidades públicas.
A vida nos entendeu mais amplo que a existência. A democracia, valor inegociável nos últimos anos no nosso país.
Convidamos aqueles que pensam semelhante a se juntarem a nós, não apenas na categoria médica, mas nas outras categorias de trabalhadores na sociedade. O Coletivo Rebento segue firme na defesa de um SUS forte, das universidades públicas com pesquisas genuinamente brasileiras e nos interesses nacionais. Pela ética médica e pela medicina baseada em evidências. Pelo fortalecimento da democracia no nosso país. Pela paz no mundo. Pela defesa ampla e irrestrita da vida, com condições dignas de sobrevivência para toda a nossa população, sem as quais é impossível oferecer saúde".
