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Em sua segunda participação consecutiva na competição oficial de Cannes – entre seis passagens pelo evento ao longo da carreira –, Karim Aïnouz comprovou mais uma vez o motivo de tanto prestígio no festival francês, onde realizou nesta quarta-feira (22) a première mundial de ‘Motel Destino’, seu novo longa-metragem. O filme foi ovacionado por doze minutos ao fim da sessão de gala no icônico Grand Théâtre Lumière, na qual o cineasta cearense contou com a companhia de mais de 20 membros da equipe e do elenco, incluindo os protagonistas Nataly Rocha, Iago Xavier e Fábio Assunção. Animados com a reação do público, o diretor e sua comitiva dançaram ao som da música que embala os créditos finais do longa, sob aplausos do público.
“Depois de quatro anos de terror, estou muito feliz de ter podido voltar a filmar no Brasil e fazer um filme que celebra a vida, a alegria e a paz”, discursou o cineasta ao término da exibição.
Vencedor do prêmio Un Certain Regard, em 2019, com ‘A Vida Invisível’, o diretor havia exibido “Firebrand”, seu primeiro projeto em língua inglesa, na mostra principal do festival no ano passado. Elemento recorrente na filmografia de Karim Aïnouz, o erotismo é o pano de fundo de ‘Motel Destino’. Em seu oitavo longa de ficção, ele apontou as lentes para as cores fortes e vibrantes do litoral nordestino, que dão a tônica visual-narrativa da nova obra, o primeiro projeto do diretor rodado inteiramente no Ceará desde ‘O Céu de Suely’ (2006).
O estabelecimento de beira de estrada que dá título ao novo filme é, segundo Karim, “o principal personagem do enredo e o local onde se entrecruzam questões crônicas da realidade brasileira”. O longa é um retrato íntimo de uma juventude que teve seu futuro roubado por uma elite tóxica e esmagadora, contra a qual a insubordinação e revolta são, não raramente, a saída possível.
“Me interessa muito falar de desejo e revolta, temas de absoluta relevância no Brasil contemporâneo. ‘Motel’ é uma saga do encontro de um rapaz em fuga, totalmente vulnerável, com uma mulher aprisionada pelas dinâmicas de um casamento abusivo. Unidos pelo destino, seus caminhos se cruzam e a história se desenrola”, resume Aïnouz.
“Eu me inspirei bastante na pornochanchada e no cinema noir. Posso resumir ‘Motel Destino’ como um thriller erótico, mas ele é, antes de tudo, uma história de amor. O amor entre um jovem periférico que vive à revelia de um sistema que o quer morto e uma mulher que resiste aos atentados do patriarcado contra a sua própria vida”, adianta Aïnouz.