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| Foto: Divulgação |
Um grupo de teatro sobe ao palco para estrear uma peça que não ficou pronta. Diante do impasse, a apresentação desvia para um caminho imprevisível. No lugar de um espetáculo acabado e polido, o público é arrastado para um devaneio artístico — um mergulho nos bastidores do processo, repleto de tentativas e suposições sobre o que a peça poderia vir a ser. Assim resume-se “Inacabado”, nova montagem do Grupo Bagaceira de Teatro que será apresentada nesta quinta-feira (17), às 19h, no Palco Principal do Theatro José de Alencar. O acesso é gratuito com retirada pela plataforma Sympla.
“Inacabado” é fruto da interlocução artística do Bagaceira com Marcio Abreu, diretor da Companhia Brasileira de Teatro. Estreou no final de 2024, no 23º Festival Recife do Teatro Nacional, marcando a retomada criativa do grupo após a morte do cofundador Rogério Mesquita. Desde então, o espetáculo vem circulando com plateias lotadas, sessões extras e boa repercussão na imprensa.
Em cena, os integrantes do Bagaceira são personagens de si mesmos. Entre realidade e ficção, revelam dúvidas, conflitos e angústias que permeiam a criação de um espetáculo e, por que não, a própria vida. Na peça, o “inacabamento” é tratado não como falha, mas como potência. Marcado por memórias afetivas e pelo luto, a montagem oscila entre o trágico e o cômico com a honestidade crua de quem vive do e para o teatro. É uma resposta política e artística ao presente. Atravessada pela dor, mas também pelo humor e pela vontade de seguir.
Ao falar sobre teatro, “Inacabado” constrói metáforas potentes sobre a existência, ultrapassando o universo cênico para tocar em questões mais amplas da vida. Em tempos atravessados pela lógica neoliberal, que impõe pressa, produtividade e soluções imediatas tanto na arte quanto nas relações, o espetáculo convida o público a desacelerar, a habitar o processo e a enxergar na imperfeição e no inacabamento caminhos possíveis de reinvenção do mundo.
Formado atualmente por Débora Ingrid, Isabella Cavalcanti, Rafael Martins, Ricardo Tabosa e Tatiana Amorim, o Bagaceira desenvolveu “Inacabado” a partir de uma pesquisa no Laboratório de Teatro da Porto Iracema das Artes e com apoio do 13º Edital Ceará das Artes da Secult-CE e do Edital para as Artes Lei Paulo Gustavo da Secultfor.
Sediado em Fortaleza, o Bagaceira é reconhecido nacionalmente por sua pesquisa de linguagem. Ao longo de 25 anos, firmou-se como uma referência em teatro de grupo no país. Já circulou por todo o Brasil e pelo exterior, além de incursões bem-sucedidas no cinema. Inacabado faz referência a toda essa história, mas também aponta para o futuro.
O Bagaceira
Grupo de teatro experimental que, através de espetáculos autorais, vem construindo uma linguagem peculiar. Misturando referências plurais de forma inusitada, o Bagaceira conseguiu associar suas provocações conceituais a uma comunicação acessível, conquistando, assim, a simpatia de público e crítica, com mais de 15 espetáculos e 20 esquetes, além de produções audiovisuais como “On my Own” (curta-metragem, com roteiro e direção de Yuri Yamamoto/ 2008); “Ao Vento” (curta-metragem com roteiro e direção de Yuri Yamamoto/ 2016); “Inferninho” (longa-metragem com roteiro de Rafael Martins, Pedro Diógenes e Guto Parente, direção de Pedro Diógenes e Guto Parente/ 2018) e “Desmonte” (curta-metragem com roteiro de Rafael Martins, direção Marrevolto Filmes e Grupo Bagaceira/ 2022).
Desde o surgimento, em 2000, o grupo mantém uma produção ininterrupta, construindo desse modo um repertório diversificado, com peças que se mantiveram em atividade por diversos anos, como “Papoula e o Sabonete Cabeludo” (2001), “Os Brinquedos no Reino da Gramática” (2002), “Lesados” (2004), “Engodo” (2004), “O Realejo” (2005), “Meire Love” (2006), “Pornográficos” (2007), “Tá Namorando! Tá Namorando!” (2008), “InCerto” (2010), “Por que a Gente Não é Assim?” (2011), “A Mão na Face” (2012), “Interior” (2013), “O Pequeno Casaco Solitário” (2014), “Fishman” (2015) e “O Sr. Ventilador” (2017).
Sediado em Fortaleza, na Casa da Esquina, o Grupo Bagaceira de Teatro divide sua agenda de viagens, ensaios e compromissos com o tempo para a livre criação, de onde podem surgir novas ideias, textos, cenas e até mesmo projetos em outras áreas, ultrapassando a fronteira entre o teatro e outras linguagens.
